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O Social Bauru conversou com Juarez Xavier, professor que foi um dos alvos das pichações racistas que aconteceram nos banheiros da Unesp de Bauru no último final de semana.

Apesar de ser militante há anos na luta contra o racismo, Juarez revelou algumas medidas que ele a universidade irão tomar daqui pra frente e ainda afirmou que o fato não o fez desanimar – muito pelo contrário. Confira o bate-papo:

Você chegou a ver as mensagens que foram pichadas?
Juarez: Sim. Nós temos um grupo de estudos e nos reunimos na quarta-feira (22). Uma das nossas pesquisadoras recebeu uma foto de um amigo e na foto tinha uma ofensa às mulheres negras. Estava escrito: ‘Mulheres negras fedem’. Aí na quinta-feira (23) houve uma ação mais massiva. No mictório da universidade estava escrito que a ‘Unesp estava cheia de macacos’ e no último box tinha escrito Juarez macaco’. Então, não foi de um dia só, mas vários dias. Inclusive, eu estava em São Paulo com a reitora discutindo as políticas do NUPE (Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão) e quando cheguei aqui na sexta-feira (24) e fui ao banheiro, levei um susto. Aí sábado (25), as mulheres da limpeza vieram e apagaram. E foi uma cena muito triste porque eram mulheres negras apagando ofensas à elas. Uma, inclusive, ficou muito chateada e relatou tudo com os olhos marejados.

E não deu um desânimo?
Juarez: Não, pelo contrário. Uma coisa que eu acho interessante é que eu não me considero uma vitima do racismo. Eu sou um militante anti-racista, tenho este histórico. E acho que esse processo paradoxalmente reflete no êxito da politica da universidade. A Unesp adotou uma politica de cotas que nos últimos 2 anos aumentou a presença de alunos e alunas negras aqui na universidade. Eu acho que é uma extensão da politica que estamos fazendo. Então não desanima, mas mostra a necessidade de uma ação politica mais consistente. Quando eu falo nesta ação politica é que: foi adotado essa posição da universidade, mas é necessário ter uma politica para receber estes alunos, criar debates e estudar formas para adaptar o ensino à essa nova realidade. Eu não desanimei e fiquei mais entusiasmado.

E você acha que foi algo pontual? Contra o sistema de cotas, por exemplo?
Juarez: Não, acho que foi algo mais abrangente. Nos últimos dois anos surgiram os coletivos aqui na Unesp como o coletivo feminista, homoafetivo e negro. Além disso, estamos rearticulando o NUPE, que tem duas vertentes de ação: uma que é a pesquisa, com uma revista científica e que produz reflexões sobre a questão racial; e a outra ação é o braço de extensão, de relação com a sociedade. Então, tudo isso pode ter provocado esta ação e incomodado algumas pessoas. Não é algo pontual contra o negro, mas com todas estas ações. E comigo talvez tenha sido mais evidente porque eu sou o chefe do departamento e sou coordenador do NUPE. Então, a impressão que eu tenho é que é algo em relação ao que nós significamos à Universidade.

Foto: Juarez Tadeu de Paula Xavier / arquivo pessoal
Foto: Juarez Tadeu de Paula Xavier / arquivo pessoal

Você nunca recebeu ameaça?
Juarez: Não, espero que nunca chegue neste nível. Na Unesp eu nunca recebi.

Fora da Unesp sim?
Juarez: Ah, eu sou militante há muitos anos. Minha vida é pautada pela denúncia desses grupos conservadores. Por isso, eu acho que não sou uma vítima. é reflexo de uma ação que nós vemos na Universidade. E se isso incomodou, vai incomodar muito mais porque vem muito pela frente. Na quinta-feira (30), por exemplo, vamos fazer uma reunião para discutir as próximas ações. Não é um problema da universidade, mas um problema mundial. Vamos tomar algumas medidas e aplicar este debate na universidade. E sem esquecer que foi cometido um crime. Nossa ideia é registrar um boletim de ocorrência – só estamos esperando a orientação do nosso departamento jurídico. Também queremos abrir um debate na universidade e falar que isso é crime: machismo é crime, segregação social é crime, racismo é crime. Nós também vamos rodar os campus da universidade e ampliar o trabalho do NUPE. São 8 grupos constituídos na Unesp. É pouco, mas a nossa ideia é ampliar isso nos próximos dois anos. A função do NUPE nos campus é promover a discussão social e contribuir para que tenha uma inclusão não-segredadora, além de acompanhar as políticas públicas. Temos uma série de atividades que vamos fazer.

Como você disse, não tem como desanimar…
Juarez: Nem desanimar e nem frear isso. Sem contar o relato de uma das mulheres que limparam a sujeira. Ela disse: ‘dizem que eu sou fedida, mas estou limpando toda essa porcaria que as pessoas fazem’. E disse com os olhos cheios de lágrimas. Foi uma coisa que me deixou muito desconfortável. E estamos falando de uma mulher que, com o trabalho dela e os impostos, ajuda a pagar a universidade e aí ela entra como empregada e talvez seus filhos e netos nunca serão alunos. Isso que é cruel e é isso que eu quero discutir.

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