shitei-topo

Norberto Sgavioli começou no Karatê aos 11 anos em Boracéia, cidade próxima à Bauru. Ele começou com o professor Wagner Piconez, no estilo Shotokan. “Eu sempre vinha para Bauru para treinar e estudar”, conta Norberto. Outros professores influentes na vida de Norberto foram Ivair, que está em Bariri hoje, e Roberto Alves Batista, que continua em Bauru. Ainda hoje, Norberto tem a supervisão de grandes mestres como Yasutaka Tanaka, do Rio de Janeiro, Yasuyuki Sasaki e Carlos Rocha, de São Paulo, Yoshizo Machida, de Belém, e Kazuo Nagamine, também de São José do Rio Preto. Norberto ainda destaca a gratidão pelos colegas de treinamento e alunos.

O instituto Shitei, inaugurado há 13 anos em Bauru, é um local simples e com características que remetem à origem do Karatê. A mensalidade é uma contribuição para a manutenção do dojo que, segundo Norberto, “é irrisório aos benefícios da prática”. O Shitei abrange pessoas de todos os gêneros, faixas etárias e formas físicas. “É um Karatê sem preconceitos”, afirma Norberto. “Shitei” significa mestre e aprendiz, professor e aluno. Remete a desenvolver habilidades e superar obstáculos. “Nos tornamos mestres, mas nunca deixamos de ser alunos”, afirma Norberto.

O Karatê inicia e encerra com uma saudação. Essa saudação não é religiosa, é um ato de respeito e humildade, costume dos orientais. No final de cada treinamento lê-se o Dojo-kun, que é o lema do dojo. São cinco: esforçar para a formação de um caráter saudável; fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão; desenvolver a persistência e o esforço; conter o espírito de agressão destrutiva; respeitar acima de tudo.

Quando você começou a dar aulas de Karatê?
Norberto: Em 1990 eu fiz exame para a faixa preta, comecei a dar aula. Dei aula em algumas academias aqui em Bauru, dei aula em alguns clubes e passei praticamente 10 anos dando aula e treinando. Dei uma interrompida nas aulas para poder fazer faculdade, me formei em economia, fiz pós-graduação em controladoria e finanças e depois disso eu montei esse dojo.

Quando o Shitei surgiu?
Norberto: Eu inaugurei o dojo em abril de 2003, então já são 13 anos de estrada. Aluguei esse local, que era uma loja, um galpão e estava totalmente destruído. Eu conheci o professor Kazuo Nagamine de Rio Preto, um grande mestre da Japa Karate Association (JKA) e Federação Paulista de Karatê Tradicional, que nos ajudou por muitos anos e ainda nos dá apoio. Também conheci o professor Sassaki, de São Paulo. Eles são as pessoas que nós temos mais proximidade e foram os influenciadores. O Shitei está afiliado na JKA, que é a entidade reguladora do Karatê Shotokan no mundo.

Qual o diferencial do Shitei?
Norberto: Eu tenho outros grandes amigos professores na mesma graduação. Quatro daqui de Bauru que são o Lauro, Roberto e Robinson; um de Pederneiras, o Wagner; e um de Bariri, o Ivair. Todos são ligados à JKA. O nosso grande diferencial é a linha de treinamento.

Quem pode participar?
Norberto: Crianças a partir dos sete anos já podem se inscrever, tanto meninas quanto meninos. E nós não temos limite de idade. Nós temos um jovem de 73 anos que faz aulas com a gente. O Karatê abriga todos os tipos de corpos, do mais alto ao mais baixo, do maior ao mais franzino, pois a energia é tirada do chão e depois a força é multiplicada através das articulações. É uma arte plural e que não exclui.

Você exerce alguma outra atividade além de cuidar do Shitei?
Norberto: Eu sou profissional do setor privado já há 18 anos e esse lugar aqui é, na verdade, um complemento da minha casa. Não é para fins lucrativos, é mais um hobby, uma paixão. O dinheiro que os alunos dão para participar das aulas é revertido para manter e dar recursos ao Shitei. O Karatê tradicional não é um esporte, é uma arte marcial. Mas assim como as atividades esportivas do Brasil sofrem por falta de grandes investimentos, imagine a arte marcial, que é pouco valorizada no país e no Ocidente como um todo. O curso tem que ser pelos alunos, pelas pessoas que são realmente apaixonadas por isso.

E os alunos aqui participam de competições, certo?
Norberto: Todos nós aqui já fomos para competições. Hoje eu atuo majoritariamente como árbitro e em algumas competições. Nós sempre participamos de campeonatos regionais, paulista, jogos abertos e temos uma turma relativamente nova, mas os alunos estão sempre envolvidos em premiações, meu próprio filho, inclusive, já foi campeão regional. Ninguém do Shitei conseguiu um título nacional ainda, mas temos potencial. Tem uma criançada aí com muito potencial.

E por que você escolheu o Karatê?
Norberto: Eu nasci em Boracéia e, naquele tempo, tinha muita brincadeira de rua. Eu sempre estava na casa dos meus amigos, jogando bola na rua. Uma vez um colega, que fazia faculdade de educação física e tinha aulas de Karatê, levou uma atividade para nós praticarmos no clube e daí surgiu a curiosidade. Meu primeiro kimono foi feito de cortina pela minha mãe. Começou por uma brincadeira, mas depois virou uma necessidade, eu sempre queria voltar e brincar de Karatê com os meus amigos.

O que o Karatê te ensinou? Qual a filosofia?
Norberto: Eu não consigo mensurar o total benefício que o Karatê trouxe para a minha vida. Tudo o que eu conquistei, em termos de dedicação profissional e familiar, foi através da prática do Karatê. Inconscientemente, isso vai moldando a pessoa e a levando para um caminho, um linear bem tênue de equilíbrio de vida e realização profissional. Fora a saúde, o caminho da retidão e honestidade. O Karatê JKA está embasado em cinco pilares: caráter, sinceridade, esforço, etiqueta e auto-controle. Então, com base nisso, você consegue encaixar tudo o que você faz na sua vida. Ele ajuda você a centrar e enxergar que é possível. Além disso, as questões químicas da prática aeróbica, tornam o Karatê uma válvula de escape para eliminar as energias acumuladas. O Karatê faz você ter vontade de ser melhor do que você era ontem, a verdadeira competição, na minha opinião, é contra você mesmo no dia-a-dia, no treinamento.

Você já teve alguma frustração tão grande que pensou em desistir do Karatê?
Norberto: Muitas, mas eu não posso deixar isso me abalar. Desde 1990, já passaram mais ou menos três mil alunos pelas minhas mãos. O Karatê demanda uma vida toda, anos de esforço e nem sempre as pessoas estão dispostas. E eu entendo isso! Mas, uma coisa que me deixa muito frustrado, é aluno que some sem avisar, a ingratidão.

Você pode explicar um pouco o que é o Karatê e como ele funciona?
Norberto: Claro. Alguns benefícios que o Karatê traz são a auto-confiança, concentração, força de vontade, imaginação, compreensão, expressão, força de decisão, planejamento, liderança, inteligência, memória e muitos outros, estes são alguns destacados pelo mestre Sasaki. O Karatê é originário do Japão e é constituído por movimentos coordenados de defesa e ataque. Ele era tradicionalmente usado para batalhas. O Karatê não utiliza armas, o próprio corpo é ferramenta de defesa e ataque. Hoje, o Karatê está divido nas partes de condicionamento físico, alongamento, parte aeróbica, musculação, fortalecimento da cadeia esquelética e muscular. Tem um treinamento baseado em Kihon, que são fundamentos que aperfeiçoam o corpo e a mente através de movimentos repetidos. Existe m também os Katas, criados há quase 100 anos, que é uma luta imaginária em determinada sequência pré-estabelecida e direção de movimentos. Alguns são mais expansivos, outros mais introspectivos, mas todos têm uma razão para se treinar, são os Katas que moldam o karateka para a luta.

Muita gente relaciona luta e artes marciais à violência, qual a sua opinião nesse assunto?
Norberto: Existe uma diferença muito grande. A violência é, na verdade, uma raiva não contida. A tristeza, alegria, amor, a raiva são sentimentos naturais ao ser humano, você precisa deles, na dosagem certa, em determinados momentos da vida. A raiva, disposição e energia são necessárias no Karatê. A violência é qualquer ato descontrolado de agressão e que não é, necessariamente, físico. Muitos esportes como ciclismo, futebol, skate, têm as lesões mais presentes do que o Karatê. É muito raro você ver uma lesão séria dentro do Karatê, porque os movimentos, apesar de fortes, são controlados e calculados. Dentro da academia esse controle triplica. Claro que acidentes acontecem, mas são pequenos hematomas, cortes e nada muito grave. Lembrando que é uma arte de luta e não de dança.

Alguma novidade para o futuro?
Norberto: O Karatê Shotokan está dividido em graduações. As faixas coloridas, chamada de kyu, que é em uma ordem decrescente. Iniciante é faixa branca e o primeiro exame é feito para as faixas amarela, vermelha, laranja, verde, roxa e marrom. Depois são dois anos de exame para o reconhecimento da marrom que libera o exame para faixa preta. A partir da faixa preta, iniciam-se os dans, que são as graduações. Esse ano nós fizemos o último exame agora em junho e o próximo será em dezembro. Então, quem tiver interesse e começar a treinar entre julho e agosto, é possível, com dedicação, já conseguir fazer o exame de dezembro.

Serviço
Endereço: Rua Aviador Gomes Ribeiro, 16-39
Horário: Aulas de segunda, quarta e sexta das 19h às 20h.
Crianças a partir dos 7 anos, homens, mulheres, jovens, idosos podem frequentar.
Para mais informações, acesse: www.facebook.com/institutoshitei/

Compartilhe!
Carregar mais em Saúde
...

Verifique também

Clínica especializada em tratamento da coluna combina tecnologias e terapia manual para evitar cirurgia

Para evitar dores na coluna, a principal dica do fisioterapeuta Roni Toledo é ser dinâmico…