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“Futebol é coisa de homem”. “Mulher não sabe nem o que é impedimento”. “Olha que corpo musculoso, parece um homem, tem que ser feminina”. “Ela é o Pelé de saias”. “Olha a versão feminina do Phelps”. “Ela não vai conseguir, é mulher”. Isso não é nem um terço do que as mulheres – profissionais ou não do esporte – escutam. Tudo o que elas se propõem a fazer levanta dúvidas. As esportistas brasileiras, alemãs, africanas, mulçumanas, cristãs – todas têm que trabalhar dez, vinte, duzentas vezes mais para que alguém acredite que elas são capazes. E nem assim…

Não à toa, os salários são discrepantes dentro das quadras, campos e tatames, assim como nos escritórios. Os exemplos acontecem pelo mundo todo, as atletas bauruenses também não escapam. Ghiedree Ramos treina Kung Fu há oito anos e afirma que “a sociedade ainda apresenta um machismo implícito, que vem com tom de brincadeira”. “Eu pratico um esporte considerado ‘masculino’ e, infelizmente, praticado por poucas mulheres. O preconceito que eu enfrentei e enfrento até hoje é o de gênero e, muitas vezes, vem das pessoas da própria academia”, explica Ghiedree. “Muitos homens querem mostrar sua superioridade de força nos treinos, além de comentários ‘nossa, você bate igual homem’, ‘você é mais macho que eu’, ‘você não tem medo de ficar com o corpo igual de homem?’, ‘coitado do seu namorado'”, completa.

Mas assim como Rafaela Silva, Marta, Cristiane, Mayra Aguiar e tantas outras atletas, o machismo não as venceu. “O preconceito não me faz desistir. Pelo contrário”, afirma Leili Oliveira, que também pratica Kung Fu. “O preconceito dificulta tudo. Ser atleta é constantemente vencer desafios e dificuldades. É uma luta diária”, continua Leili. A luta também é por patrocínios, esse que é um problema geral no esporte brasileiro, com exceção do futebol masculino. “Eu tive que dar um tempo nas competições e treinos, mas por questões financeiras, trabalho, falta de apoio e patrocínio”, finaliza.

Nos últimos três anos, cresceu na internet um movimento para o empoderamento feminino e isso engloba muito também o esporte. Campanhas como o ‘Olga Esporte Clube’, do Think Olga, e publicidades como ‘#LikeAGirl’, da Always, são apenas algumas das mobilizações que dão certo. A mestre em comunicação, Carolina Firmino, aproxima o problema de outra maneira. Pensando em seu futuro projeto de doutorado, Firmino montou um grupo para estudar como os novos meios alternativos da internet estão acompanhando as Olimpíadas do Rio. “O grupo surgiu como um desses canais, com o propósito de discutir o que é veiculado, avaliar a interação entre o emissor e o receptor da mensagem, debater sobre o real desempenho das meninas nos Jogos e o questionar o real sentido das notícias”, explica Carolina.

A jogadora de vôlei, Bruna Honório, assim como a atleta Dayse Figueiredo, acreditam no futuro. “Estamos em busca de um reconhecimento em todas as áreas. Devagar chegaremos a um futuro melhor. A mulher, principalmente no esporte, é guerreira e está mostrando que tem os mesmos direitos que os homens”, afirma Bruna. Para a atleta Evellin Passos, que começou no projeto Acaê de Bauru, o primeiro passo é igualar premiações com os homens. “Premiações e verbas de patrocínio do esporte feminino deveriam ser equivalentes ao masculino, mas, recentemente, as mulheres estão ganhando seu espaço”, acredita.

Com uma trajetória no vôlei iniciada aos 12 anos, Letícia Kwiek acredita que o caminho seja a educação. “Acredito que a nossa educação tem que mudar, temos que formar nossas crianças em adultos que saibam respeitar todas as diferenças existentes. O esporte tem um papel fundamental nesta formação”, afirma a jogadora. “Espero que esta mudança venha em um futuro breve”, finaliza.

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