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Nada de jogos, de gringos, de festa, de aprendizado. Os dias da jornalista Tatiana Santos estão agora, no mínimo, mais vazios depois da experiência que viveu recentemente. A moradora de Bauru foi uma das escolhidas para ser voluntária nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e, apesar de só ter recebido uma ajuda de custo com alimentação e de ter encarado dias de muito trabalho, Tatiana não pensa duas vezes ao dizer que cada minuto valeu muito a pena. A jornalista comentou um pouco sobre a oportunidade, os momentos mais emocionantes desta experiência e já avisa: ‘que venha, Tóquio!’

Confira o bate-papo:

Como foi o processo seletivo para ser voluntária?
Tatiana: Primeiro me cadastrei no site e respondi a um questionário. Na sequência, participei de uma entrevista em grupo, depois de uma entrevista individual e tive que aguardar até que recebesse a carta-convite – por meio dela que ficamos sabendo onde seria nossa operação. Depois disso vieram as etapas de treinamentos, online e presencial, e a convocação por meio da escala de trabalho, que poderia durar até 40 dias para quem tivesse disponibilidade de participar plenamente.

Qual foi o seu trabalho?
Tatiana: Eu fui escalada para trabalhar no Parque dos Atletas, o centro de treinamento das modalidades basquete, handebol, ginásticas artística e rítmica, wrestling, natação, polo aquático e judô. Na maior parte do tempo, eu ficava entre as zonas de treinamento do handebol e do basquete: recebia as equipes, confirmava se os atletas precisariam de ônibus para voltar para a Vila (já que muitos preferiam se locomover a pé) e também tinha que me certificar de que os veículos chegariam na hora certa para buscar as equipes que optavam pelos ônibus.

Você recebeu alguma ajuda de custo?
Tatiana: Sim, todos os voluntários receberam o cartão para transporte e alimentação. No meu caso (trabalhei das 8h às 16h com uma hora para almoçar), recebia café da manhã e almoço. Mas a hospedagem foi por conta própria, fiquei na casa de uma amiga.

Tatiana Santos e Dionísio Dalben, de Bauru, que também foi voluntário. Ao fundo é a piscina do polo aquático
Tatiana Santos e Dionísio Dalben, de Bauru, que também foi voluntário. Ao fundo é a piscina do polo aquático

Como era a sua rotina?
Tatiana: Eu chegava de manhã e tinha que me apresentar aos coordenadores para que eles posicionassem os voluntários nos diferentes postos (cada esporte contava com uma zona de treinamento dentro do complexo Parque dos Atletas). Geralmente, eu ficava no basquete e no handebol, como falei antes. Então checava a planilha com os agendamentos dos treinos de cada equipe e, assim que uma seleção chegava, conversava com um membro técnico que me confirmava o horário de saída dos treinos e se seria necessário o ônibus para retornar à Vila. Isso era importante, porque algumas equipes são mais pontuais, outras menos. Era importante alinhar o horário do fim do treino com a previsão da chegada do ônibus, para que nem os atletas e nem os motoristas ficassem esperando uns aos outros.

Foram quantos dias de trabalho?
Tatiana: Na minha escala foram dez (intercalados com folgas), mas muitos começaram a trabalhar no dia 23/7 (data em que as seleções começaram a chegar ao Brasil para treinar) e vão ficar até o fim dos Paralímpicos.

Conseguiu assistir algum jogo?
Tatiana: Sim, alguns! Assisti ao polo, basquete, handebol e fui ao Maracanã no dia do 6×0 contra Honduras! (risos). Os ingressos desses dois últimos jogos eu ganhei no sorteio para voluntários – todos ganharam ingressos, mas as modalidades e as datas eram na sorte.

Viu algum atleta que sonhava em conhecer?
Tatiana: Essa foi uma das melhores partes. Eu dei sorte de estar no centro de treinamento, então vi quase todas as seleções de basquete e handebol. Como também tinha a zona de treinamento da ginástica, vi a Simone Biles e a Flávia Saraiva. Queria ter visto o Phelps – quem viu disse que ele foi muito receptivo e tirou algumas fotos.

Teve contato com pessoas de outros países?
Tatiana: Muitas, só no nosso time de voluntários tinha gente da Itália, dos EUA, da Argentina e da Colômbia. As pessoas realmente investiram dinheiro e tempo para estar no Rio e, apesar de voluntário, o trabalho foi levado muito a sério na nossa instalação. Sem falar do pessoal das comissões técnicas. Alguns eram bem fechados, mas outros puxavam papo entre um treino e outro. Um membro da seleção holandesa de handebol um dia ergueu a camisa e começou a mostrar a barriga saliente, dizendo em português que aquilo era efeito da ‘cerveja carioca’.

Maracanã, no dia do 6 x 0 contra Honduras
Maracanã, no dia do 6 x 0 contra Honduras

Algumas matérias comentaram que tiveram voluntários que desistiram. Isso aconteceu mesmo? Você teve algum problema?
Tatiana: Eu não conheço voluntários que desistiram, mas tenho uma amiga que trabalhou no Parque Olímpico e que, por exemplo, foi ‘convidada’ a fazer seu horário de jantar em 15 minutos, sendo que o correto seria uma hora. Então em alguns setores houve abuso, sim. Ela não chegou a desistir, mas fez valer o que foi acordado com os voluntários. Mais uma vez, eu dei muita sorte porque meus coordenadores foram muito atenciosos e souberam nos motivar. O clima no meu time foi bem amigável e leve.

E valeu a pena?
Tatiana: Nossa, eu já quero ser voluntária em Tóquio! (risos). Valeu muito a pena. A minha intenção, inicialmente, era ter essa experiência para engrossar meu currículo, mas eu não imaginava que iria ganhar tantas outras coisas. Primeiro porque você conhece gente com histórias bem diferentes da sua, e isso é muito precioso. Segundo porque você percebe que aquela conversa de que ‘cada pecinha é importante’ não é clichê. Tudo tem que estar muito bem encaixado pra coisa acontecer, e fazer parte desse quebra-cabeça, ainda mais sabendo que o resultado foi positivo, foi muito satisfatório.

E qual foi o momento mais emocionante?
Tatiana: Foram muitos, mas eu vou destacar o dia em que conheci a Dani Piedade, do handebol feminino. Eu já sabia da história dela, ela teve um AVC em 2012, se recuperou e um ano depois estava ganhando o mundial com a camisa do Brasil! Essa mensagem de superação que o esporte traz é muito forte. Os voluntários tinham orientação para não ficar assediando, tirando foto, mas naquele dia eu não consegui segurar. Ela foi muito simpática, conversamos um pouco sobre a goleada contra a Romênia no dia anterior… E daí você vê que aquelas mulheres e aqueles homens que parecem máquinas poderiam estar com você na mesa de bar, falando da vida (com a diferença de que eles pediriam água mineral, né?).

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