Daniel Padim descobriu a paixão pela música por meio do tio que estudava violão clássico. Descobriu ali também que o comum não seria seu caminho: descobrir faces do instrumento pouco vistas pelo público. E foi assim que ele se tornou um dos precursores do “fingerstyle”, estilo pouco reconhecido no Brasil, mas que abriu as portas do mundo todo para Padim. Uma delas foi a da gravadora norte-americana Candyrat Records, “talvez uma das maiores produtoras de conteúdo de fingerstyle no mundo”, segundo Daniel.

O músico bateu um papo com o Social Bauru, contou todos os detalhes do fingerstyle e de sua nova parceria. Confira!

Daniel, você comentou que toca fingerstyle. O que é isso?
Daniel: Fingerstyle é uma forma peculiar de se tocar violão no qual se faz melodia, harmonia e percussão simultaneamente e, geralmente, num estilo musical mais pop. A percussão geralmente é feita utilizando partes do corpo do violão de onde se pode obter sons percussivos similares aos sons de bumbo e caixa de uma bateria, por exemplo. Além disso, tem muitas técnicas utilizadas no Fingerstyle, que acabam sendo bastante associadas ao estilo: uso do polegar esquerdo para apertar notas no baixo, uso de duas mãos na escala (tapping, two hands), uso intensivo de harmônicos, baixos dobrados, afinações alternativas. Aqui no Brasil o fingerstyle é pouco conhecido, mas aos poucos ele vem conquistando seu espaço.

E quando e por que a música surgiu em sua vida, mais especificamente o violão?
Daniel: A minha paixão pelo violão surgiu através do meu tio que estudava violão clássico. A forma como ele tocava era diferente do que eu costumava ver quando outras pessoas tocavam e a partir daí acabou surgindo esse apreço diferenciado por esse instrumento. Acabei descobrindo logo na infância que, embora o violão fosse um instrumento popular, havia uma face dele ainda não conhecida que eu era ávido por desbravar.

Há muito tempo você não mora mais em Bauru? Onde está atualmente e essa mudança se deu por conta da música?
Daniel: Atualmente moro em Campinas-SP. Tive que me mudar para lá em 2011 logo após ter me formado como engenheiro (UNESP – Bauru) para atuar numa empresa de projetos. Então a mudança não foi relacionada com a música. Minha história com a música é muito longa porém por muito tempo não tive a pretensão de ser músico profissional. A minha carreira, vamos dizer como profissional na música, começou a partir de 2014 quando lancei meu álbum inteiramente autoral “Looking Up to Giants” que teve uma ótima recepção no Brasil e no mundo.

Como é a sua rotina de estudos? Imagino que sejam muitos treinos diários…
Daniel: Eu já estudei muito, horas e horas diárias, mas atualmente não muito. O foco dos meus estudos hoje é sempre em composição. Eu não gosto de perder muito tempo tocando o que teoricamente eu já sei. Eu estudo minhas composições antigas apenas quando tenho algum show ou apresentação marcada. Caso contrário meu foco é 110% composição de novas peças. A parte legal de estudar voltado para composição é que as vezes eu preciso inventar formas de colocar o que está na minha cabeça no violão e isso acaba me forçando a criar técnicas muito particulares para tocar minhas próprias músicas. Nunca fui muito regrado nos estudos. Já cheguei a passar semanas sem pegar no instrumento. Eu realmente acredito que as vezes a gente precisa de um tempo para criatividade e inspiração darem uma respirada. Isso funciona muito para mim.

E como surgiu a parceria com a Candyrat Records?
Daniel: A Candyrat Records é uma produtora americana focada em conteúdo de fingerstyle. Talvez ela seja a maior produtora de conteúdo de fingerstyle no mundo. Atualmente eles contam com mais de 500 mil inscritos no canal do youtube. Acabou surgindo o convite para eles fazerem a divulgação dos meus vídeos após uma de minhas composições, a música “Harmonics Got Crazy”, ser compartilhada por Andy McKee, um dos violonistas de fingerstyle mais famosos do mundo. Isso acabou chamando a atenção da produtora e, a partir daí, tivemos um primeiro contato. A minha relação com a Candyrat é apenas com relação a divulgação do meu trabalho, pois a produção de tudo que eu faço é própria e não sofre nenhuma intervenção musical nem administrativa por parte da gravadora. Eu optei por, em um primeiro momento, usar essa parceria para os arranjos que faço de músicas conhecidas, com videos mais experimentais e diferenciados, justamente para atrair bastante visualizações e chamar mais gente para o meu canal, no qual me concentro mais nas composições autorais. Para mim foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois agora eu tenho uma exposição muito maior do que tinha antes dessa parceria, e é uma honra saber que tenho o reconhecimento de uma das maiores instituições do fingerstyle no mundo.

Você também já teve a oportunidade de mostrar o seu talento fora do Brasil, né? Gostaria que comentasse sobre essas oportunidades.
Daniel: Sim, fui convidado em abril deste ano para participar de um dos maiores festivais de fingerstyle da Europa Central, o “Fingerstyle Feeling Festival” na Polônia. Esta foi a sexta edição do festival. Lá já tocaram grandes nomes do fingerstyle mundial, tais como Jon Gomm, Mike Dawes, Calum Graham, Thomas Leeb, dentre outros, e tive a felicidade de ser um dos violonistas convidados desta última edição. Lá toquei composições do meu primeiro álbum e composições inéditas que farão parte do meu próximo disco. Foi uma experiência incrível.
Esse mesmo festival organiza um concurso, no qual eu já fui jurado. Esse concurso é de grande relevância, pois jovens de toda a Polônia viajam até a cidade do evento para participar. A parte engraçada dessa história é que, como o Brasil não tem cultura nenhuma com relação ao fingerstyle, eu nunca fui participante de nenhum concurso e a primeira vez que estive participando de um, foi como jurado. Confesso que a princípio não estava tão confortável com a proposta, mas no fim foi uma experiência muito legal. O clima do concurso é de muita descontração, o que passa uma tranquilidade enorme para os participantes e jurados.

Você também compõe, certo? São quantas músicas e como surge a inspiração?
Daniel: Sim, componho. Como já disse anteriormente, composição é um dos meus maiores focos com a música. Compor é o que me motiva a continuar. Meu primeiro álbum “Looking Up to Giants” contém 12 composições. As inspirações são diversas. Para citar uma poderia falar sobre a história da minha música “Train From the West”. Como todo bom bauruense já sabe, a cidade de Bauru teve seu crescimento dado sob influência do grande entroncamento de linhas férreas na cidade, e minha família morava perto de uma linha de trem. Passei parte da minha infância meio que fissurado por trens. Meu avô foi maquinista da rede ferroviária de Bauru. Enfim, a música “Train from the West”, Trem do Oeste em português, eu compus baseado no sentimento de um trem se deslocando de muito longe, chegando cada vez mais perto, passando por você e indo embora. São registros da minha infância. Se você ouvir o álbum sabendo essa história eu acredito que você vai conseguir captar o significado de cada nota na música. Essa é apenas uma história, mas cada música tem seu significado que inclusive eu fiz questão de descrever no encarte do CD.

Você vive da música? E é difícil viver da música?
Daniel: A música é parte da minha renda hoje, mas não é a minha principal fonte de renda. É um pouco desanimador o cenário musical hoje no Brasil para quem deseja ser concertista, principalmente no estilo que toco. Realmente são poucos os adeptos aqui no Brasil e se torna difícil conseguir apoio dos grandes centros de divulgação de arte justamente pelo fato de o fingerstyle ainda não ser tão popular aqui.

E qual o sentimento quando está tocando?
Daniel: Meu sentimento com relação ao violão é totalmente voltado a superação. Eu sou viciado em compor. Quando consigo colocar tudo o que está dentro de mim numa nova composição, e sinto que ficou como eu esperava, me sinto a pessoa mais feliz do mundo. E toda vez que eu toco novamente a música, me vem aquele sentimento de superação e dever cumprido novamente. É incrível.

E qual o maior sonho como músico?
Daniel: O que eu mais prezo é por continuar compondo músicas boas. Acho que a minha grande pretensão é a de que o que eu venha a criar no futuro seja melhor do que o que eu já criei no passado. E através de mostrar isso para as pessoas eu me torne motivo de inspiração para elas da mesma forma que muitas pessoas foram e ainda são inspiração para mim.

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