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“Para mim, ela é uma válvula de escape para os problemas do dia”, afirma Tico Angoleiro, contra-mestre de capoeira na cidade de Bauru. Ele é um dos responsáveis pelo projeto de Capoeira que acontece semanalmente na Casa do Hip Hop de Bauru – e completamente apaixonado pela prática.

Há 20 anos, Tico dedica-se a aprender ainda mais sobre essa manifestação cultural brasileira, levando sua história e trabalho até para fora do nosso País. Recentemente, ele recebeu o convite de apresentar a capoeira angola (ao todo, são três tipo de capoeira) na Alemanha e dar oficinas, além de mostrar como ela funciona de fato.

Quando se tem uma paixão por algo, é visível até para os leigos – como o nosso caso. Mas com pouco tempo de conversa em sua casa, foi possível perceber o quanto Tico é apaixonado pelo que faz e a importância de projeto que cuida ao lado de outras pessoas na cidade.

“A capoeira me proporcionou muitas coisas e tenho certeza que continuará proporcionando…Hoje eu venho colhendo os frutos do meu trabalho sério.”

Nesta entrevista, ele explica melhor sobre os tipos de capoeira e como ela surgiu em sua vida, além de esclarecer todas as dúvidas sobre as suas aulas na Casa do Hip Hop. Aos interessados, as vagas estão sempre abertas!

Confira o bate-papo:

Há quanto tempo existe o projeto?
Tico Angoleiro: Nós estamos com o projeto de capoeira dentro da Casa do Hip Hop há um ano. Agora, além das aulas às terças, também começamos a ensinar um grupo toda sexta-feira que é a ocasião que conseguimos colocar a música em prática.

Como surgiu a parceria com a Casa do Hip Hop?
Tico Angoleiro: Nós sempre tivemos um contato com o Renato, um dos membros da Casa, e conhecíamos um pouco o projeto. Quando eles conseguiram o espaço na Estação Ferroviária, eles comentaram com a gente sobre este projeto.

E você está à frente do grupo de capoeira há quantos anos?
Tico Angoleiro: Há 15 anos, mais ou menos. Estive um tempo com um grupo e, durante uma época, acabei assumindo o trabalho na cidade. As outras pessoas tiveram os seus compromissos, foram morar fora de Bauru e o trabalho vem se desenvolvendo há muito tempo. O começo foi dentro da Unesp com as aulas eram no Guilhermão. Mas depois de um tempo precisamos sair porque era muito longe para as pessoas irem. Aí, viemos para o centro da cidade.

Como a capoeira surgiu na sua vida?
Tico Angoleiro: Foi há muito tempo. Para se entender melhor, é preciso compreender as diferenças entre os tipos de capoeira. Antigamente tudo era capoeira e hoje existem três termos: capoeira angola (que é a que eu faço) e depois veio a capoeira regional, que surgiu um pouco depois da capoeira angola. Essa inovação surgiu na década de 60, com o mestre Bimba que acrescentou golpes marciais e didática, já que antes era vista como algo marginalizado. Depois desta mudança, ela começou a ser vista como algo cultural, sendo uma luta legitimamente brasileira. Nesta evolução, com uma mesclagem das duas, surgiu chamada capoeira contemporânea, que é uma junção da angola com a capoeira de Bimba, acrescentando alguns elementos acrobáticos. Eu comecei com a contemporânea. Geralmente, a angola é mais divulgada, mas quando eu comecei, não tínhamos o entendimento da capoeira angola. Eu e muitos ainda hoje não têm a dimensão do que é a capoeira angola. Mas quando eu vi a primeira vez, que foi com um mestre de Feira de Santana, na década de 80, e que se apresentou na cidade de Jaú, eu me encantei. Foi ali que eu vi que era isso que eu queria. Junto com um companheiro de Bauru, o Dovival Tessali, eu comecei os estudos. Para se ter uma ideia, nós ficávamos vendo fitas de vídeo, porque só assim conseguiríamos treinar. No começo, nós não fazíamos parte do grupo, mas começamos a fazer oficinas com eles e trazemos para Bauru. Ele viu que estávamos interessados e nos aprofundando, e aí montou-se o grupo aqui. Depois de um tempo, quem estava à frente do grupo aqui em Bauru precisou mudar de cidade e, como eu era um dos mais antigos, eu assumi este trabalho. Hoje sou contra-mestre na cidade. Então, ao todo, tenho quase 20 anos dentro do grupo, que tem reconhecimento mundial dentro do cenário da capoeira angola. No nosso grupo da Casa do Hip Hop em particular, nós não temos só o foco da capoeira angola, nós também focamos no samba de roda que é uma manifestação cultural muito forte em Feira de Santana, na Bahia, região do meu mestre. Eu fui recentemente à Alemanha dar oficinas de capoeira e tentar levar um pouco de como essa manifestação cultural funciona.

Hoje quantas pessoas estão no projeto?
Tico Angoleiro: Nós temos, atualmente, cerca de 12 pessoas participando do projeto. Temos pessoas de todas as faixas-etárias, principalmente adultos. A Natália Rizati Ferreira (formada em ciências sociais e pesquisadora sobre a história do grupo de capoeira) também participa do projeto ao meu lado, iniciou um projeto só com crianças, em outro local. O projeto se chama ‘Formiguinha’ e acontece em uma instituição lá na Pousada da Esperança.

Em algum momento você já viveu da capoeira?
Tico Angoleiro: Não. Eu não me envolvo financeiramente com a capoeira e não tenho a intenção de viver só disso. Eu não quero essa obrigação financeira. Por si só, para mim, ela é uma válvula de escape para os problemas do dia. Eu não penso nela como algo que vai me cansar mais no final do dia, mas sim, algo que irá recarregar minhas energias.

E faz quanto tempo que você está no grupo?
Tico Angoleiro: Eu tenho quase 20 anos dentro do grupo, que tem reconhecimento mundial dentro do cenário da capoeira angola. No nosso grupo em particular, nós não temos só o foco da capoeira angola, nós também focamos no samba de roda que é uma manifestação cultural muito forte em Feira de Santana, na Bahia, região do meu mestre. Eu fui recentemente à Alemanha dar oficinas de capoeira e tentar levar um pouco de como essa manifestação cultural funciona.

O que a capoeira possibilitou para você?
Tico Angoleiro: Todas essas novas experiências, desde viajar e conhecer novas culturas até levar minha cultura para fora. A capoeira me proporcionou muitas coisas e tenho certeza que continuará proporcionando. A trajetória dentro da capoeira angola é dessa forma, você constrói tudo com o tempo e as pessoas começam a te reconhecer dentro do universo da capoeira. Hoje eu venho colhendo os frutos do meu trabalho sério.

Ainda têm vagas no projeto aqui em Bauru para quem quiser conhecer melhor?
Tico Angoleiro: Tem sim! É só chegar lá, nós conversamos e está tudo certo. Não precisa ter um conhecimento prévio. Além da Casa do Hip Hop, nós usamos também um espaço na Casa de Teatro Celina Neves, que foi cedido antes de conhecermos a Casa do Hip Hop. Lá nós fazemos as aulas toda quarta-feira, às 19h30. Se a pessoa estiver interessada é só aparecer em um desses lugares que a gente vai ensinar a capoeira para ela. Tem uma taxa simbólica, que varia de acordo com a condição financeira de cada um: se a pessoa me falar que esse mês não poderá contribuir, tudo bem. Contribua no próximo ou quando der.

A capoeira é considerada um esporte, uma luta ou uma filosofia? Afinal, o que é a capoeira?
Tico Angoleiro: Existem diversas visões. Tem quem ache que é uma luta, que é o meu caso. A capoeira foi inventada para libertar os negros escravos e ela existe até hoje, então, para mim, ela é uma luta. Só que como era uma luta que não podia ser vista, foi disfarçada como dança, até por esse lado teatral. Muitas pessoas ainda concordam com essa denominação. Depende muito do que a pessoa quer para ela. Para mim ela é uma luta, mas no jogo ela pode ser um momento de descontração.

Nesses 20 anos atuando com a capoeira, o que você aprendeu?
Tico Angoleiro: Eu aprendi que eu ainda tenho muito o que aprender! Eu estou sempre aprendendo, na verdade. E isso eu trago para a minha vida também em diversas situações de controle emocional, saber lidar com situações. Se você fizer um trabalho sério, você só tem a aprender. Por isso eu vou morrer com ela.

A Casa do Hip Hop está localizada na Estação de Ferroviária de Bauru.
Para saber mais, acesse: www.casahiphopbauru.com.br

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