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Você é mulher? Se sim, de todos os textos jornalísticos que você lê, com quantos você se identifica? Tenho certeza de que a resposta gira em torno de poucos ou nenhum. Isso acontece porque, assim como muitos espaços, as redações dos jornais ainda são compostas por homens em sua maioria, portanto as informações transmitidas pelos meios de comunicação contemplam a eles.

Percebendo a falta de dados que giram em torno do universo feminino como um todo, a jornalista Thamires Motta decidiu fazer um site com assuntos diversificados e, muitos, ainda tratados como tabu pela sociedade. “A ideia era que fosse meu trabalho de conclusão de curso. Inicialmente, o que eu queria era construir um site de jornalismo colaborativo que falasse sobre feminismo. Com o processo colaborativo, a gente foi ajustando algumas coisas e o objetivo do projeto nunca foi terminar no TCC e, sim, dar continuidade para frente e além”, conta a idealizadora.
O portal sobre feminismo, visibilidade lésbica e interseccionalidades ganhou o nome “Casa de Labrys”, remetendo ao símbolo feminista conhecido como um machado de duas faces associado às sociedades matriarcais onde, muitas vezes, aconteciam rituais lésbicos.

Elas explicam que a “Casa” se acoplou com o intuito de ser um espaço de acolhimento para as mulheres, onde elas pudessem encontrar informações de maneira clara, passando a sensação de uma conversa entre amigas.
“A gente tem o intuito de acolhimento mesmo, de falar sobre pautas que, muitas vezes, não são faladas na mídia ou então são faladas de modo superficial. Queremos ter esse contato como se fosse um bate-papo entre a gente e a mulher que está lendo”, explica a jornalista e colaboradora Isis Rangel.

Ainda sobre a forma de apresentar o conteúdo às leitoras, Helena Botelho, também colaboradora do site completa: “A gente até conversou sobre a linguagem para não ser muito técnico. A primeira edição, por exemplo, falamos sobre saúde, então para facilitar e não parecer uma bula de remédio, a gente tomou este cuidado. Tem também as matérias direcionadas às adolescentes e a gente tenta passar de maneira que as pessoas entendam as pautas que sentimos que faltam serem retratadas”.

As 12 colaboradoras se reúnem para decidir as pautas e cada uma com sua vivência, levanta assuntos pouco abordados pela mídia e que atingem as mulheres como relacionamentos abusivos, aborto e saúde das mulheres lésbicas. A produção também se dá colaborativamente, assim, cada uma participa da parte do processo que mais se identifica, seja com textos, fotos ou ilustrações.

“Uma das problemáticas do jornalismo hoje é que ele é um nicho masculino branco e heterossexual, então a maioria das redações são compostas por esses tipos de homens e faz com que as linhas editoriais dos veículos sigam as vivências daquela pessoa que está escrevendo. Então trabalhar com temas que são raros para nós mulheres é um dos pontos importantes do projeto e a gente refletiu bastante sobre isso, como falar sobre um tema pouco abordado e qual a importância deles. Pra mim, era extremamente importante que a gente falasse de invisibilidade lésbica porque foi um processo que eu sofri durante toda a minha vida e eu nunca vi sendo falado em nenhum ambiente, seja acadêmico, na mídia, na televisão ou na minha casa. Isso provoca uma violência, não só contra mim, como também contra mulheres lésbicas. Esse processo de emancipação pra que a gente possa falar sobre nossas pautas é um combate à violência na verdade. A gente faz uma reflexão sobre as violências que a gente sofreu, que não são faladas na mídia, e a gente tenta retratar isso nas reportagens de uma forma bem clara, bem límpida pra tentar combater esse problema”, explica Thamires.

E para que a Casa de Labrys consiga contemplar a diversidade de mulheres, a equipe de colaboradoras é aberta para quem quiser ajudar no projeto. “A gente tenta ao máximo ser mais diversa possível para ter uma representatividade maior e o intuito é sempre crescer e dar espaço para outras vozes. Eu acho importante porque dá mais chances para as leitoras se identificarem com alguma de nós. É um diferencial também, porque muitos veículos têm menos pessoas produzindo, querendo ou não, pessoas iguais e o legal da Casa de Labrys é que tenha meninas de vários lugares com vários pensamentos, que seguem diferentes frentes feministas. Acho que isso é o mais importante: mostrar várias vozes e não uma só”, conta Isis.

“Jornalismo colaborativo, com recorte de gênero, raça, classe e sexualidade. Ecoamos nossas vozes contra a invisibilidade lésbica e toda forma de opressão”, assim se define a Casa de Labrys, que oferece às mulheres informação para libertar e empoderar.

Afinal, o que significa a Casa de Labrys?
Conversamos com três colaboradoras para saber o que o site significa para elas e como está sendo fazer parte desse projeto tão importante na sociedade de hoje.

“Para mim o site são duas coisas muito importantes: primeiro acolhimento, desde o início do projeto era para ser algo bem concreto e era um objetivo que fosse um espaço de acolhimento, pois eu tinha refletido bastante. Todas as vezes que eu estou rodeada de mulheres o meu relacionamento com elas, a divisão das minhas histórias e a compreensão das minhas opressões se tornam muito mais fáceis do que quando estou em ambientes masculinos, porque a gente está o tempo todo em ambientes masculinos então a gente suprime muito isso. Estar em ambientes predominantemente femininos é uma forma de empoderamento, de emancipação. O segundo detalhe muito importante é que seja uma frente de combate ao machismo, pois publicar matérias sobre os temas que a gente publica, falar sobre masturbação, sobre aborto e invisibilidade lésbica, não é só para causar polêmica, mas sim, pra causar um transtorno na sociedade, porque é com o transtorno na sociedade que a gente provoca mudanças, as pessoas discutem mais sobre isso, falam mais sobre isso e é um dos objetivos da Casa” – Thamires Motta.

“Eu já sou formada há dois anos em jornalismo e foi uma experiência totalmente nova que eu nunca tinha tido. Já tinha feito coisas colaborativas, mas nunca tinha feito uma coisa só de mulher com tantas mulheres e a parte das reuniões é a melhor coisa que o site me trouxe porque me permitiu conhecer melhor algumas meninas que eu conhecia e conhecer outras que eu nunca tinha visto. Ver como a gente é diferente e como toda mulher é igual em alguns pontos, infelizmente normalmente nas partes de violência. Mas mesmo as meninas sendo diferentes a gente consegue ter uma amizade. A Labrys foi um dos lugares onde eu consegui saber lidar com as diferenças e construir algo bonito disso que é o site” – Isis Rangel.

“Para mim também foi uma experiência totalmente nova, eu entrei no curso muito distante do que eu sou hoje em relação ao feminismo e a consciência sobre a violência é uma discussão que falta na universidade. Não temos projetos voltados para isso, a maioria dos nossos professores são homens e as mulheres, às vezes, não tem espaço para falar sobre isso na sala de aula, então é uma coisa que falta. O projeto é aberto, pode entrar pessoas que já são formadas, gente que está na faculdade ou que acabou de entrar. É uma oportunidade pra todo mundo aprender porque quando a gente se reúne uma fala uma coisa que eu nunca tinha pensado, então você começa a abrir a cabeça. Além da nova oportunidade que não existe na faculdade, essa união é muito diferente” – Helena Botelho.

Para conhecer mais, acesse: www.casadelabrys.com

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