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Muitos já ouviram falar, mas poucos sabem tudo o que se passou na vida de Eny Cezarino, dona de um dos maiores bordéis do Brasil. E, foi por causa dessa curiosidade, que o autor e jornalista Lucius de Mello pesquisou, por dez anos, tudo o que envolvia essa mulher tão misteriosa.

Depois de muito trabalho, entrevistas, hoje, Lucius comemora a reedição de seu projeto Eny e o grande bordel brasileiro, lançado pela primeira vez em 2012. Nessa entrevista, o autor fala sobre a sua trajetória, revela curiosidades sobre Eny e comenta sobre a série que a Rede Globo irá produzir esse ano sobre a cafetina mais famosa do Brasil.

“Mesmo oficialmente a Globo não tendo comprado os direitos do livro – eles foram vendidos para a Casablanca Filmes – só poderei ter certeza que nada que eu escrevi foi copiado ou inspirado para elaboração da minissérie depois que assistir aos capítulos (…) O meu livro até então é o único publicado no Brasil sobre Eny”. Confira!

Quando você pensou em escrever o livro sobre a Eny? Como surgiu a ideia?
Lucius: Tive a ideia de escrever o livro em 1988 – mesmo ano em que me mudei para Bauru para trabalhar como repórter na então TV Globo Oeste Paulista. A ideia surgiu ao ouvir os relatos dos moradores em bares, supermercados, nas ruas e festas. Quando ficavam sabendo que eu tinha acabado de me mudar para Bauru sempre vinham me perguntar se eu nunca tinha ouvido falar da Eny e aí me falavam da cortesã, na época, morta há um ano com pesar e admiração.

Foi um projeto de quanto tempo?
Lucius: Entre pesquisa e o tempo que levei para escrever foram dez anos.

O que mais te surpreendeu durante esse processo?
Lucius: Tive muitas surpresas boas durante minha pesquisa. A amizade e cumplicidade entre Eny e Nicola Avalone Jr. – o Nicolinha – político influente que foi prefeito de Bauru e deputado estadual. E a grande sacada de Eny para atingir o sucesso: transformar o ambiente do seu bordel num ambiente familiar – onde ela se comportava como uma mãezona de suas “meninas” que se vestiam e se comportavam com a elegância e o fino trato das moças da sociedade bauruense. O lado bruxa da Eny também me surpreendeu muito. Em sigilo, ela pagava e pedia ao médico de confiança dela para esterelizar as prostitutas quando tinham que fazer abortos sem que ficassem sabendo que nunca mais poderiam ser mães”.

E foi fácil, no sentido de ter a ajuda dos entrevistados, ou encontrou dificuldade para descobrir as histórias?
Lucius: Não foi muito fácil, não. Tive que insistir muito para conseguir alguns depoimentos. Algumas pessoas só concordavam em falar se eu garantisse que seus nomes fossem trocados. Especialmente do último amante de Eny – um coronel do Exército que morava num bairro elegante do Rio de Janeiro. Ele bateu o telefone várias vezes na minha cara e só depois de muita persistência, consegui arrancar deles algumas palavras sobre seu relacionamento com Eny.

A série que a Globo irá produzir esse ano é baseada nesse livro?
Lucius: Só poderei responder essa sua pergunta depois que a minissérie for exibida. Mesmo oficialmente a Globo não tendo comprado os direitos do livro – eles foram vendidos para a Casablanca Filmes – só poderei ter certeza que nada que eu escrevi foi copiado ou inspirado para elaboração da minissérie depois que assistir aos capítulos. Afinal, a história da vida de Eny desde a origem da família dela em Salerno na Itália até a morte em Bauru – só eu contei até agora. O meu livro até então é o único publicado no Brasil sobre Eny.

E a imagem da Eny, que você tinha antes de escrever o livro, mudou ao longo do projeto? Como você a enxerga?
Lucius: Nunca tive uma imagem pré-concebida da Eny. Fui construindo esta imagem à medida que tocava a pesquisa, ouvindo as entrevistas e conferindo documentos, cartas, fotografias. Exergo Eny como uma grande mulher. A minha Dama das Camélias ou aproximando mais o tempo – a madame Claude do Brasil.

Atualmente, você está em algum outro projeto literário?
Lucius: Sim, tenho dois novos projetos literários e o meu doutorado em literatura na USP.

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