claudio-massad-tenis-topo

Cláudio Massad começou cedo no esporte. Do lazer do ping pong, ele partiu para um lado mais profissional do tênis de mesa. O atleta treinou com seriedade por cinco anos, quando decidiu se dedicar aos estudos e ingressou na faculdade de Direito.

Durante todo o período, Cláudio se manteve ativo no tênis de mesa de uma forma mais leve. Ao mesmo tempo em que ele iria se formar, o irmão sofria de pneumonia. Foram as duas coisas que o trouxeram de volta ao esporte para valer. “Meu irmão foi fator determinante na escolha. Em 2007 eu me formei em Direito e em 2008 ele lutava contra uma pneumonia. Meu irmão me disse para eu correr atrás dos meus sonhos, pois ele não o tinha feito”, conta Cláudio.

Com a morte do irmão, não restava dúvidas a Cláudio: o tênis de mesa era o caminho. E foi mesmo, e é até hoje. São mais de 200 medalhas na carreira e números expressivos, não à toa, ele está entre os melhores nos rankings nacional e mundial.

Para saber detalhes da carreira, das dificuldades, deficiências e paraolimpíadas, o Social Bauru conversou com o atleta. Ele explicou motivações, o que é necessário para o Brasil evoluir no esporte e a quantas anda o processo que move. Confira!

Eu vi que você chegou até a cursar Direito… Como o tênis de mesa surgiu na sua vida?
Cláudio:
Bom, eu comecei a jogar tênis de mesa eu tinha 12 para 13 anos, foi em 1998. No início era uma brincadeira, meus amigos jogavam. Na época, eu jogava futsal no Sesi, aí eu comecei a me interessar e entrei para o tênis de mesa no clube Nipo, que era colônia japonesa aqui de Bauru. Eu tive um período sem treinar, entre 2003 e 2004, que foi quando eu me dediquei aos estudos. Em 2007 eu me formei em Direito e foi ali que eu decidi que queria realmente me dedicar ao tênis de mesa. Um fator determinante nessa escolha foi o meu irmão, pois em 2008 ele estava doente, com pneumonia, e me falou que ele nunca tinha feito o que queria, ele tinha escolhido o caminho que as pessoas queriam que ele escolhesse. Ele falou que, se sobrevivesse, correria atrás dos sonhos. Infelizmente, ele faleceu, então eu levei de coração tudo o que ele havia dito para mim. A partir daquele momento eu comecei a viver do tênis de mesa, passei cerca de cinco anos treinando fora em Marília, Jaú e São José do Rio Preto. Em 2013, eu voltei para Bauru e estou até hoje.

E você está no tênis de mesa paralímpico, certo?
Cláudio:
Isso. Eu tenho uma leve deficiência na perna esquerda, isso me possibilitou jogar no tênis de mesa paralímpico. Atualmente, eu sou o primeiro do Brasil na classe 10 paralímpica e também estou em segundo na categoria olímpica do absoluto B. Sou também o primeiro do estado de São Paulo e ano passada fui campeão do Parapan-americano em equipe, vice no individual e sou o 23º do ranking mundial.

Aquele tempo entre 2003 e 2004 que você ficou sem jogar e foi fazer direito… por que você decidiu dar essa pausa?
Cláudio:
A situação do esporte no Brasil é muito complicada e nós trabalhamos muito. Na época eu queria focar um pouco na minha vida e acabei deixando o tênis de mesa um pouco de lado. Eu continuava treinando, mas não com um propósito de viver daquilo. Isso até o falecimento do meu irmão, como eu falei.

E como é sua rotina de treinos?
Cláudio:
Eu treino de manhã, na hora do almoço faço o trabalho físico na academia, depois treino no período da tarde de novo, no final do dia eu tenho osteopatia, que é uma atividade de fisioterapia para prevenir lesão. Também faço pilates duas vezes por semana, tenho acompanhamento com psicóloga. Além disso tudo, reservo duas horas por noite para fazer gelo no corpo inteiro. Nós estamos sempre trabalhando. É bem pesado, mas ao mesmo tempo é muito satisfatório. Quando eu fazia Direito eu não via a hora de chegar sexta-feira logo, agora chega final de semana que eu não tenho campeonato, eu não vejo a hora de voltar para a rotina segunda-feira.

De final de semana você consegue descansar?
Cláudio:
Quando não tem campeonato, sim. Agora, por exemplo, eu venho de três semanas consecutivas de torneios. A sequência foi de Jogos Regionais aqui em Bauru, depois o Paulista em Jundiaí e depois a Copa Nacional em Maceió. Ainda temos que ir para São Bernardo do Campo para os Jogos Abertos. A rotina é sempre bem extensa, mas eu faço o que gosto, vira mais uma diversão do que um trabalho.

Você tem ideia de quantos títulos tem?
Cláudio:
Eu nunca fiz um cálculo específico, mas eu acredito que em primeiro lugar eu tenho mais de 50 títulos. Contando segundo e terceiro lugar, talvez cerca de 200 ou 250 medalhas.

Você comentou que é difícil ser atleta aqui no Brasil, fica mais difícil ainda no interior?
Cláudio:
Eu acho que depende. No interior, apesar de ser menor e ter menos empresas, nós temos muito mais visibilidade em questão de mídia mesmo. O problema fica por conta da falta de políticas esportivas seja a nível federal, estadual ou municipal. O Brasil precisa desenvolver um plano para que o investimento seja feito desde a escola, pegar os destaques e mandar para um centro de treinamento de modalidades. O bolsa atleta é outro fator fundamental, uma criança de 12 anos ganhando 300 reais por mês incentiva muito para que ela continue no esporte. Conforme ela se desenvolve, o recurso aumenta. Ao chegar na faculdade, ganhar uma bolsa e continuar com o recurso. Isso é um exemplo do que falta, uma política que invista no esporte e dê estrutura para a pessoa viver disso.

Por causa dessa falta de incentivos, você viu bastante gente desistir ao longo da sua carreira?
Cláudio:
Claro. Na época que eu comecei, era eu e mais 20, eu sou o único que está praticando até hoje. Vários, inclusive melhores do que eu, que desanimaram e foram seguir um caminho mais seguro financeiramente. Todo mundo viu e se emocionou com os Jogos do Rio, e aí que eu pergunto, como pode a Secretaria de Esportes ser o primo pobre? Outra coisa que eu acho importante é termos pessoas que são da área cuidando da Secretaria e muitas vezes isso não acontece.

Quais ensinamentos o tênis de mesa trouxe para sua vida?
Cláudio:
Várias coisas. Primeiro, apesar de ser um esporte individual, na verdade não é. É um trabalho em equipe. Eu sempre preciso de alguém para treinar comigo, de pessoas para minha orientação e meu desenvolvimento, seja na parte física, mental ou técnica. Aprendi a ganhar e a perder, principalmente. Questão de conhecimento e cultura. Por conta do tênis de mesa, eu já joguei e conheci diversos lugares do Brasil e do mundo. O esporte, para mim, é uma das coisas mais importantes que existem.

Tem diferença do ping pong para o tênis de mesa?
Cláudio
: Sim. No tênis de mesa nós precisamos de uma mesa com as medidas específicas; a raquete precisa, obrigatoriamente, de um lado vermelho e outro preto, os dois de borracha, nunca só a madeira; a bolinha precisa ter 40mm e ser de material de plástico. O ping pong tem menos regras. Acho que a maior diferença de todas é que o tênis de mesa é um esporte olímpico e paralímpico, o ping pong é mais lazer.

E você entrou na justiça contra a Confederação, certo?
Cláudio:
Sim, eu ingressei na justiça contra a Confederação porque, infelizmente, eu fui cortado dos jogos paralímpicos. Foi o momento, depois da morte do meu irmão, mais difícil da minha carreira. Teoricamente, por estar no topo dos rankings mundial e nacional, a vaga era para ter sido minha, mas o técnico colocou um atleta que treinava com ele e pagava uma propina para ele. Então, ele escolheu esse atleta e me deixou de fora dos jogos. Infelizmente, o processo está parado. Além de eu ficar de fora, esse sentimento de injustiça também me deixa frustrado, nós não tivemos resposta, eu não ganhei nem um não para recorrer e ter para onde avançar.

Isso, de alguma forma, te desanimou com o esporte?
Cláudio:
Olha, como eu falo para todo mundo, o tênis de mesa é a minha vida. Indo ou não para os jogos, eu vou continuar trabalhando, mas, com certeza, era outra motivação. Eu e minha equipe trabalhamos e superamos obstáculos para no final ficarmos fora por conta de dinheiro. Eu só espero que a justiça seja feita, seja humana ou divina, porque machuca perder a oportunidade de disputar os maiores jogos do mundo que aconteceram no meu próprio país, e perder isso por corrupção.

Mesmo com tudo isso, qual o conselho que você dá para esses jovens que esperam seguir no esporte?
Cláudio:
Eu aconselho eles a persistirem no que amam, correr atrás dos sonhos e sempre acreditar neles mesmos. Basicamente tudo o que meu irmão me falou. O sol brilha todos os dias, está aí para quem quiser, o negócio é correr atrás e não ficar reclamando. Mais dia ou menos dia as coisas acontecem.

As escolinhas do Centro de Treinamento – que fica na Rua Wenceslau Braz, 12-69 – são gratuitas e funcionam de segunda, terça, quarta e quinta das 14h às 15h. Também funcionam de segunda, quarta e quinta das 20h às 21h. Nos dois horários o professor Ricardo que ministra as aulas. Todos os equipamentos são fornecidos no local. O projeto é da Prefeitura.

Compartilhe!
Carregar mais em Saúde
...

Verifique também

Clínica especializada em tratamento da coluna combina tecnologias e terapia manual para evitar cirurgia

Para evitar dores na coluna, a principal dica do fisioterapeuta Roni Toledo é ser dinâmico…