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Diz a sabedoria popular que família é tudo igual. Talvez venha daí a sensação de alívio após assistir a “Álbum de Família”. Isso porque o filme, que tem um elenco recheado de estrelas como Meryl Streep, Julia Roberts e Ewan McGregor, retrata um núcleo familiar desunido e cheio de ressentimentos, que felizmente se distancia bastante do dia a dia de muita gente.

Segunda empreitada no cinema do diretor John Wells, que tem uma carreira dedicada principalmente a seriados de TV, a película acompanha a família Weston, que precisa se reunir depois que o pai desaparece sem motivo. Para tentar localizá-lo e fazer companhia para a mãe, as filhas do casal voltam para sua terra natal no Meio Oeste americano. Mas o que deveria ser um encontro reconfortante traz à tona desabafos, discussões e segredos que mostram que por dentro a grama do vizinho é mesmo sempre menos verde.

Baseado em uma peça do dramaturgo Tracy Letts (que também ficou responsável pelo roteiro), o filme não nega suas raízes teatrais ao se concentrar nos ótimos diálogos e nos embates entre os familiares. Por isso, o elenco estelar é o principal destaque. É hipnotizante a forma como os doze atores “principais” estão completamente entregues às fragilidades e deficiências de seus personagens, dando-lhes humanidade em caracterizações que poderiam facilmente descambar para a caricatura. A forma como o roteiro costura as relações familiares torna todos essenciais para a narrativa, sendo uma tarefa árdua criar uma escala de importância entre eles.

Porém, usando como referência as indicações de Meryl Streep e Julia Roberts ao Oscar, é correto afirmar que a dupla é mesmo a espinha dorsal do filme. A primeira como Violet, a mãe com câncer viciada em medicamentos, e a segunda como Barbara, a filha que se mudou pra longe da família e que retorna ao interior enquanto seu próprio casamento desmorona. É desta relação despedaçada, marcada por feridas nunca cicatrizadas, que explodem confissões cheias de mágoa e que obrigam as atrizes a navegar do afeto à loucura em poucos segundos e dentro de uma mesma cena. Um espetáculo que vale cada centavo do ingresso!

Ainda que aqui e ali surjam risadas pontuais, principalmente graças às farpas irônicas e sarcásticas trocadas pelos personagens, os risos parecem funcionar muito mais como reações nervosas à tensão da história. Confinados em uma casa do meio do nada, a sensação é de que os personagens estão sempre desconfortáveis e, como o filme bem define, em um “estado de aflição espiritual” que só aumenta com o calor insuportável do lugar.

Com isso, fica a dúvida de por que “Álbum de Família” concorreu ao Globo de Ouro entre as produções de comédia. A explicação mais sensata é a de que o estúdio inscreveu o filme na categoria para garantir indicações a Meryl Streep e Julia Roberts em um ano em que a disputa entre os dramas já estava muito acirrada. Um artifício baixo que não precisaria ser utilizado, já que os desempenhos das atrizes estão entre os melhores de suas carreiras.

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